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2024-06-29 07:02:15
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'-' Sophia Liechtenstein on Nostr: Uma História meio bad sobre suicídio de um ex-colega de sala meu e uma reflexão ...

Uma História meio bad sobre suicídio de um ex-colega de sala meu e uma reflexão sobre traição aqui no Brasil. Essa fórmula sempre repete e nunca acaba.

Bom, é uma história bem triste, e longa, isso aconteceu a 1, 2 anos, mas vou dar um contextozinho de mais tempo pra entender mais ou menos quem era esse colega e o que aconteceu antes de ele se matar (Supostamente). Pra quem quiser ler, vamos lá.

Eu estudei num colégio gigantesco na maior parte da minha vida, muito grande mesmo, era quase uma universidade americana, era uma faculdade religiosa antiga de uns 100 anos que foi reformada, modernizada e acabou virando um dos lugares, talvez o lugar mais caro pra se estudar naquela cidade.

Lá, a maioria dos alunos ou eram pessoas muito ricas, ou nepotistas, bolsistas com algum desconto (Meu caso), e tinha uma minoria de pessoas que entraram porque foram transferidas de outra unidade menor, e uma dessas pessoas era esse colega.

Ele sentou na minha frente, tava calado, não falava com ninguém e fui a primeira pessoa a conversar com ele, coloquei uma xuxa no cabelo dele pra provocar e dizer um "Oi, gostei do cabelo", meio bobo, mas ele riu e respondeu de volta, meio timido, mas falou.

Mas era difícil isso acontecer, até porque a salas e séries eram distribuídas em série tal A/B/C, umas duas tinham capacidade de 40-50, e a minha era 80, algo assim, as vezes mudavam as gente de sala, tinha uns professores que mudavam até a gente se cadeira, bem rígidos. Mas sempre que eu o via, parecia um garoto muito feliz, sempre sorrindo, zoando com os amigos dele, fazendo besteiras, correndo, provocando um pessoal meio "doentinhos" de lá.

Só que no mesmo ano ele entrou, no fim, por algum motivo, ele saiu, e ninguém mais falou dele. Um pouco antes que ele morreu (Me contou) e depois (Pelos amigos dele), fiquei sabendo que os pais dele decidiram morar no interior do interior do Ceará ou Maranhão, na roça mesmo, cidade praticamente sem poste de energia. Esse meu colega ficou muito mal durante esses anos que passou lá, porque ele vinha de uma família bem pobre, tinha passado e entrado num colégio foda, mas por algum motivo, decidiram se mudar e levar ele pra roça. Dizem que foi porque o desconto da bolsa não era o suficiente, ou que o pai do avô morreu e era a cidade dele, não sei.

E ele sofreu muito lá, ele vivia curtindo o Playstation que tinha na escola durante o intervalo, tinha ganho o primeiro celular, sempre alegre, mas quando foi pro Nordeste, desenvolveu síndrome do pânico, tínitus (Um zumbido crônico no ouvido) porque sempre faziam festas com barulhos altos do lado da casa dele, tinha galo dentro de casa que cantava no quarto dele 2 da manhã, ele acordava com susto do nada, mesmo no silêncio da noite, ele levou coice de gado, teve que trabalhar na lama, ficava cheio de pus e ferida por causa de insetos e bichos que tinham lá, parou de estudar, enfim, a vida dele virou um inferno.

Anos depois, uns 2 meses antes de ele se matar, eu e minha amiga fomos pra uma festa de 18 anos onde esse garoto foi, e ele tava estranho, porém parecia ter mudado, ele era feliz, ficou triste no Nordeste, e quando apareceu na festa, tava feliz do tipo arrogante, se achando. Ele tinha ido trabalhar de atendente num prédio com vários consultórios médicos, arquitetos e empresários, e lá conheceu uma mulher, linda, linda demais, e ricaça, que chegou a estudar naquela minha escola

Ela pagava um monte de coisa pra ele, e ele gostava, se exibia pros amigos, pegava o dinheiro e pagava pros amigos também, etc. Mas no final dessa festa, eles ficaram bêbados, o garoto decidiu ir embora com o pai andando, e a garota...bem, ela ficou com os amigos dele, não de beijar, mas ficou xavecando, tirou a jaqueta e deixou o decote do vestido bem a mostra, se inclinando pra frente, falando manso.

Aí a história começa a ficar meio previsível, alguém começou a fofocar, até chegar nesse meu amigo. Ele ficou putasso, e foi tirar satisfação com ela, ela disse que não xavecou ninguém, blábláblá terminaram. Não deu uns 2 dias, e ele decidiu ir pra casa dela pra voltar, era um condomínio de luxo, mas como ele tinha ido tantas vezes, o porteiro nem perguntou, e só deixou ele entrar. Ele foi caminhando, chegou na frente da casa dela, uma casarão na verdade, foi pro outro lado da rua pra ver a janela do quarto dela, e viu um cara acariciando ela...

...aí ele enlouqueceu, tocou a campainha, eles abriram, ele começou a fazer barraco, gritou, o novo namorado disse pra ele se acalmar, não tava entendendo, e até chegou a pensar que ela que tava traindo, o meu colega ficou dizendo que ela não gostava dele, que ele queria voltar e não aguentava ficar sem ela, MAS, a cagada foi quando ela disse que ele só queria dinheiro dela, que só fez isso pra bancar o fodão e não queria ela de verdade. Mal deu tempo do novo namorado tentar dizer pra ele esperar e se acalmar, que esse meu colega saiu correndo e deixou os dois.

Aí, corta pra mim e meus amigos numa festa de piscina no prédio de uma amiga, a gente curtindo na piscina, na sombra, de repente alguém aparece dizendo que esse meu colega chegou, e que o churrasco já podia começar, todo mundo estava presente. Mas ele só sentou e ficou na cadeira de frente pra piscina e eu lá dentro, não queria sair ainda. Dei um sorriso cumprimentando ele, mas o cara só olhou e fez um "não" com a cabeça.

Perguntei o que houve e ele disse "O fdp tá com ela", e eu perguntei "Quem? O que aconteceu?", e ele disse "Aquele merda que tava dando em cima da minha minha namorada na festinha de 18.", respondi "Mas, você brigou com ele agora?", e ele desabafou, contou com raiva tudo o que aconteceu, que ela disse que ele só queria dinheiro, que ele morou na roça, ficou todo fudido, a vida dele tava incrível quando estudou naquela escola grande, e tals.

Saí da piscina, peguei uma cadeira e fiquei sentada do lado dele conversando, e deixando ele desabafar. Só que aí, alguém de longe interrompeu e gritou "Ei, vocês 2, o churrasco tá esfriando, venham logo", e eu falei pro meu colega "Quer continuar aqui ou a gente conversa depois?", e ele respondeu seco "Agora não, aquele merda fudeu minha vida", se levantou e foi embora, pegou o carro do pai e saiu muito rápido, deu pra escutar de longe o pneu derrapando no piso do estacionamento e uma buzina de um caminhão depois que o portão da garagem abriu. Foi embora

Enfim, fui pro churrasco, me servi, mas não deu 10, 12 minutos e alguém gritou "Puta merda, [Nome do meu colega] se matou"... Eu fui a primeira a falar com raiva "Mentira, para de brincar com essas coisas, garoto", e ele disse "É serio, gente, ele se matou, numa carreta bitrem alí na rodovia tal". Eu fiquei sem reação mas ainda insisti "Menino, NÃO VAI COLAR, eu tava com ele alí na piscina, vocês viram".

E aí apareceu outro amigo e disse "Gente, é verdade, ele morreu", aí foi uma confusão, gente chorando, eu sem reação, o pessoal largou o churrasco e foi pra rodovia, fui junto. O caminhoneiro tavam um pouco ferido, mas nada demais, e tinha um motorista de um carro azul que foi ultrapassado pelo meu colega antes da colisão. Ele disse que era 100% suicídio, ele foi direto no caminhão que vinha na outra faixa da contramão, de frente, só deu tempo de olhar o carro indo reto, e ir pro acostamento pra desviar.

Eu sinceramente não consigo acreditar que ele se matou, ainda acho que ele perdeu o controle, virou o volante, os pneus da frente derraparam e o carro só foi reto, era um carro meio antigo e tava muito rápido, sei lá.

O acidente foi feio demais, não vou dar muitos detalhes, mas basicamente não sobrou muita coisa do corpo dele, tem partes que nunca nem foram achadas, a maioria tava no mato da floresta do lado da rodovia, o caixão foi fechado, obviamente, e a garota e o namorado nem apareceram no velório, mandaram mensagens dizendo que sentiam muito, que tava tristes, e tals.

Hoje, não sei mais por onde eles andam, só sei que saíram e foram pro Sudeste, São Paulo, e depois não sei mais.

Essa é a história, triste demais, ainda fico meio mal, acho que deveria ter segurado ele pra não ir, esperado, conversado mais, só que eu não sei se foi proposital, se foi uma perca de controle, e nunca vou saber, os pais não falam do assunto, e eu nem seria insensível de falar disso se eles não querem.

Se foi uma perca de controle, fica na minha cabeça o que ele faria depois, pra onde iria? Pro condomínio? Pra outra casa dela? Cidade? Sei lá.
E se foi um suicídio mesmo, eu acho estranho, mas também lembro que existem suicídios "relâmpagos", literalmente, pessoas que parecem ter se recuperado, ou estão aparentemente bem, e simplesmente decidem se matar em segundos, na hora mesmo.

O que mais me intriga, é que chegou um momento nessa história onde eu disse "Aqui a história começa a ficar previsível", pois, é tão clichê essa "Fórmula da traição" aqui no Brasil, Um dos dois se afasta > o outro fica com os amigos > amigos xavecam > um desconfia > brigam > terminam > o traído tenta conversar > descobre que o outro já tá com outra pessoa.

Sabe, eu imagino o tanto de vezes que isso já se repetiu aqui, é tão clichê, mas infelizmente continua acontecendo. Junto com a Holanda, Brasil é um dos países mais infiéis. Imagino que já deve ter acontecido algo assim com alguém aqui, talvez não um suicídio ou acidente, mas algo nessa mesma fórmula, contexto, etc.

Hoje quando lembro disso nem consigo chorar, ou saber direito o que pensar sobre, mesmo tendo sido, literalmente, a primeira colega a conversar com ele naquela escola, e a última pessoa a conversar com ele em vida. Têm momento que eu penso se deveria ter sido mais rígida e não ter deixado ele correr pro carro, ou talvez ter chamado o pessoal, enfim, aquelas coisas que passariam na cabeça de qualquer um numa situação dessa.

Se você é solitário, ou é casado com alguém por tanto tempo, considere-se bem sortudo, aqui no Brasil, é só pros melhores, o resto é NPC, brasileiro médio, mediocridade. É isso, obrigado por ler até aqui (Se leu).

Desabafos da madrugada :/


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