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Um Manual de Instruções para a Direita Brasileira
Inteligência Analítica
Paulo Eneas
O conservadorismo como linha de frente ou carro-chefe do discurso político no Brasil tem zero chances de progredir, por uma razão material: o brasileiro não é conservador na sua maioria.
O suposto conservadorismo brasileiro não passou de uma projeção idealizada que um segmento minoritário da classe média fez sobre toda a população, pois confundiu com conservadorismo aquilo que foi apenas uma rejeição circunstancial e momentânea ao petismo devido ao fracasso do Governo Dilma.
A maioria rejeitou Dilma não por que essa maioria era conservadora ou temia o "comunismo". A rejeição era porque a economia estava indo pro brejo e a corrupção escalando.
Mas mesmo com corrupção, se a economia estiver indo bem, o povo engole o politico supostamente corrupto. Vejam o caso da primeira reeleição de Lula em 2006 menos de um ano após o escândalo do Mensalão. Lula foi reeleito por conta do boom econômico daquele momento.
A frase quase folclórica atribuída a círculos malufistas anos atrás, a famosa "rouba mas faz" é a síntese da verdadeira sociologia política e do ethos do brasileiro médio real, não aquele brasileiro médio imaginado por projeção ideológica de natureza psicanalítica que segmentos da classe média fazem de seus valores próprios sobre o conjunto dos brasileiros.
A maioria que vota e decide é o brasileiro real, de mentalidade estatista e progressista em várias pautas, com uma ou outra exceção importante aqui e acolá. Essa é a maioria real, não a maioria imaginária idealizada pelo grosso dos setores médios que compõem a nossa moribunda direita.
Nas manifestações de 2013, as pessoas não foram para as ruas por pautas conservadoras e menos ainda "contra o comunismo". Elas foram para as ruas pedindo mais e melhores serviços do Estado. Qual era a tônica dos discursos? Não gastar dinheiro público com estádios para a Copa do Mundo, mas com hospitais públicos, etc.
A esquerda petista, apesar de fragilizada naquele momento, captou isso e logo após as manifestações a Dilma sacou da manga a carta do Mais Médicos. A maioria da população aprovou, e as objeções ao programa vinham só mesmo dos setores médios anticomunistas por conta de Cuba, etc.
Então, que chance tem o conservadorismo no Brasil? Eu entendo que um projeto político conservador só terá chance no Brasil se for tratado de maneira distinta daquela que foi até agora.
Explico: em vez de colocar o rótulo de conservadorismo na testa e as pautas ideológicas como carro chefe de seu discurso, o aspirante a político conservador de direita tem que deixar o discurso ideológico de lado e colocar o conservadorismo embaixo do braço, como seu manual de instruções para quando chegar ao poder.
O conservadorismo tem que ser a linha de base e o fio condutor na hora de implementar as políticas públicas quando estiver no poder. Notem que é exatamente isso que a esquerda faz: a sua ideologia é a linha de base e o fio condutor de suas políticas públicas.
O lugar da ideologia é no manual de instruções debaixo do braço, e não no cartaz que você ergue com as mãos no meio da rua.
E o que colocar no cartaz? Os temas que afetam a cotidiano real das pessoas, pois o brasileiro só se interessa por política quando esta afeta seus problemas reais do cotidiano.
As pessoas comuns de carne e osso, principalmente as mais pobres, não são ideológicas: brasileiro não tem apego a abstrações, "liberdade de expressão" pra ele é noção abstrata demais por exemplo.
A esquerda já entendeu isso há décadas e por isso quando perguntavam a Lula anos idos que "tipo" de socialismo ele defendia ele desconversava. Não é que os petistas não sabiam ou não sabem que socialismo eles querem.
É o que o socialismo é pra ficar só no manual de instruções debaixo de braço. Quer saber o que é o socialismo petista? Procure nas políticas públicas que eles implementam quando estão no poder.
São essas lições básicas que a direita brasileira precisa aprender. O sucesso no embate ideológico reside em ocultar a natureza ideológica do embate, e focar naquilo que realmente importa na política: definir estratégias pra chegar ao poder.
E chegando ao poder, saber exercê-lo segundo seu manual de instruções, coisa que a direita não tem a mínima ideia de como fazer.
Pois essa direita nem mesmo tem ainda o manual de instruções do quê e como fazer quando chega ao poder. Ela só tem o cartaz, onde está escrita sua ideologia, que ela leva para suas manifestações de rua.
Colabore com o Inteligência Analítica
PIX (CPF): 483.145.688-80
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